Folha de outono


Aonde está aquela força? Aquele equilíbrio? Aquela certeza?
Mãe, vó, mulher. O tempo levou seu brilho, sua alegria, seu propósito.
O tempo levou e escondeu em algum lugar inacessível
que a gente procura, mas não acha.
Parece que se perdeu.

Esqueceu a data, a lembrança, o filho.
Pôs-se a chorar como nunca. Surgem palavras desconexas, pesadas
que nunca sairam da sua boca, nem mesmo nos momentos mais duros.

E parece que sabe que a memória está se esvaindo,
como uma folha de outono que cai no solo e deixa para trás o tronco que
sempre lhe sustentou.
Qual o propósito disso tudo? A beleza da juventude, os sonhos, os projetos.
A força da família, a estrutura, o alicerce.
As escolhas, os padrões, um mundo criado para sustentar concepções.

Se pudesse fazer algo para impedir o vôo da folha, o desprendimento da razão.
Pudesse abraçar e congelar o momento de carinho e afeto.
Mas não temos esse poder. Ninguém tem.

A vida é desapego. A folha vai cair e daqui a pouco outra e mais outra.
Assim como a lágrima nos meus olhos que cai de tristeza, de impotência.
Assim como a chuva lava a alma.
Até chegar o momento de nós mesmos seguirmos o nosso caminho.
De nos unirmos à mãe terra e fazer parte do todo, da essência.
E com o nosso exemplo fertilizar o solo para fazer com que outras sementes brotem
e tragam sua contribuição para o universo.

Mãe terra, mãe vida, mãe plena foi um dia.
O tempo levou sua alegria, sua sanidade e está levando suas lembranças.

Como é difícil saber que em algum lugar está você verdadeiramente
Mas não está mais aqui com a gente, parece que quer se desprender do galho para voar,
mas ainda não chegou a hora, não é mesmo?
Mas sua semente é real, é verdadeira, é rica e plena de amor.

É isso que fica não é mesmo?
As sementes boas que plantamos.

Tem também aquelas sementes ruins, que não brotam frutos. Somente dor.
Mas essas o tempo apaga e esquece.
Que bom.
O que fica mesmo é o essencial. Parte de nós mesmo. O amor que se espalhou.

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