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Quem sabe um dia me mudo pra lá

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Um dia quem sabe me mudo pra lá.  Me livro das dores, das amarras, dos dias cinzas, da rotina infinita.  Um dia quem sabe, me mudo pra ver o sol nascer primeiro.  Ver o mar verde brilhar e me banhar todos os dias no sal da sua água.  Quem sabe um dia me mudo pra lá. Deixo de lado o que me prende.  Ouso ser quem realmente sou.  Largo a certeza e mergulho no infinito dos desejos.  Deixo as máscaras e assumo a sinceridade.  Quem sabe no próximo carnava l me mudo pra lá?  Viver a simplicidade, pé na areia, vento no rosto e tintas nas telas.  Porque deixar pra depois?  A vida é um sopro e não sabemos pra onde vamos depois.  Depois pode ser tarde.  Talvez eu me mude.  Que a verdade se manifeste.  Que a arte reverbere.  Que a essência suprema desperte.  S empre existe um depois, um porém, todavia, entretanto.  A realidade me prende, me acorrenta no castelo que eu mesma ergui.  Talvez eu me mude pra lá.  Lá onde as pessoas sorriem, ond

Maria

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Carioca da gema, com 11 anos escolhida para subir no coreto e, sem ler nem gaguejar, homenagear com um discurso inflamado o presidente do Estado do Rio de Janeiro, Raul Veiga. Aplaudida, sai notícia até no Jornal do Brasil. Com a doença do pulmão do pai, muda-se para Barbacena. Nestor, o primeiro namorado, goleiro do Olimpia. Mas foi com Djalma que Maria casou e, com um conto de réis, fez todo o enxoval. A firma Dolabella mandou Djalma lá para Molevade e com ele lá foi Maria. Mocinha bonita de cabelos e olhos de jabuticaba. A casinha de pau-a-pique. Luz só de lampião. Voltou para Barbacena para ter a primeira filha e ficou lá até acabar a revolução. Passou por Lavras, Belo Horizonte. Mais dois filhos nasceram. Um aborto e mais um filho. Vinho do Porto e marmelada para fortificar. Partem para Foz do Iguaçu. 24 horas de trem. Em Porto Mendes, São Paulo, pegam o vapor argentino Cruz de Malta. Foram 8 dias de viagem. Ficaram ali quase um ano e meio. Para Maria foi o purgató

Crônica de um dia de jogo

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--> É emocionante ver como um esporte pode movimentar uma cidade, um povo, uma torcida. Ver suas cores preferidas tremulando e o sorriso espontâneo em cada torcedor. Desde as crianças, meio sem entender, até os idosos. A alegria de quem está na fila à espera de entrar no estádio, ansioso pelos gritos de gol, pelos xingamentos ao adversário e pela alegria de um drible, de uma jogada ensaiada, de um chute do seu ídolo. É isso que ele quer: amor, paixão e sonho. É tudo muito louco, incompreensível,   desde quando isso começa e como começa. No meu caso, mãe e irmãos coxas-branca. Morava ao lado do Couto Pereira.   Mas, meu pai, mineiro, ex-cruzeirense, agora torcedor rubro-negro, ficava deitado na cama, todos os domingos, ouvindo pelo radinho as narrações do campeonato paranaense e, naquela época, da série B. Eu ficava ali, admirando, deitava do ladinho dele e torcia junto. Cheiro de cigarro com café com leite. Ali, começou tudo isso. Washington e Assis, quase c

Folha de outono

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Aonde está aquela força? Aquele equilíbrio? Aquela certeza? Mãe, vó, mulher. O tempo levou seu brilho, sua alegria, seu propósito. O tempo levou e escondeu em algum lugar inacessível que a gente procura, mas não acha. Parece que se perdeu. Esqueceu a data, a lembrança, o filho. Pôs-se a chorar como nunca. Surgem palavras desconexas, pesadas que nunca sairam da sua boca, nem mesmo nos momentos mais duros. E parece que sabe que a memória está se esvaindo, como uma folha de outono que cai no solo e deixa para trás o tronco que sempre lhe sustentou. Qual o propósito disso tudo? A beleza da juventude, os sonhos, os projetos. A força da família, a estrutura, o alicerce. As escolhas, os padrões, um mundo criado para sustentar concepções. Se pudesse fazer algo para impedir o vôo da folha, o desprendimento da razão. Pudesse abraçar e congelar o momento de carinho e afeto. Mas não temos esse poder. Ninguém tem. A vida é desapego. A folha vai cair e daqui a pouco outra e m

SER MULHER

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SER MULHER Ser mulher é aprender a lutar a todo instante. Desde cedo, em casa, na rua, no trabalho. Ignorar padrões, exigências e costumes. Buscar ser ouvida num mundo machista e dominador. Um mundo que é composto também de muitas mulheres machistas. Em muitos casos, são as mulheres que querem ser magras e não respeitam seu biotipo. São as mulheres que querem ser perfeitas e belas o tempo todo. São as mulheres que querem ser mães que não erram. São as mulheres que querem agradar sempre seus homens. São as mulheres que julgam uma outra mulher por ser livre e ter pensamentos livres. São as mulheres que tentam se encaixar dentro de dogmas. Ser mulher é buscar deixar tudo isso de lado com leveza. É usar esse poder de transformação e   tornar-se sensível aos seus anseios. Ser consciente desse poder interno de aconchegar e acalentar, de realizar e aceitar. Ser mulher é não ser o que a sociedade espera que ela seja, mas buscar r
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Abstrato - dezembro 2018 - acrílica sobre tela

Tempo de Mentiras

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Depois de ler umas verdades escritas pelo Bukowski, ao som da chuva que veio depois de mais um dia quente, penso no mundo de mentiras que vivemos. Farsas contadas no Facebook, imagens tratadas no Instagram, textos recortados no Twitter, conselhos e mais conselhos para uma carreira fantástica no Linkedin. Celebridades e subcelebridades que tentam mostrar uma vida que fingem viver, buscando seguidores sedentos por uma vida de glamour.             Já não enxergo tão bem quanto antes, mas como não perceber uma sociedade cruel e mentirosa que nos é mostrada a cada instante? Em cada esquina, vemos a proliferação de farmácias. Um negócio em plena ascenção num mundo doente, ferido, onde tudo é resolvido com uma pílula: a ansiedade, o sono, a depressão, a obesidade, a falta de tesão.             O remédio resolve tudo, a falta de alegria, a dor da alma e faz que todos tapem os olhos para a verdade interior. Porque perder tempo buscando a solução para os problemas sendo que co